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Piano of João Donato

The New Sound of Brazil

Piano of João Donato

Ano: 1965
Selo: RCA Victor

FAIXAS

Side 1
1. Amazon (Amazonas) – (João Donato)
2. Forgotten Places (Coisas Distantes) – (João Donato e João Gilberto)
3. Little Boat (O barquinho) – (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli)
4. Manhã de Carnaval (Antônio Maria e Luiz Bonfá)
5. Lost Hope (Esperança Perdida) – (Antônio Carlos Jobim e Billy Blanco)
6. And Roses And Roses (Dorival Caymmi – versão: Ray Gilbert)

Side 2
7. Jungle Flower (Flor do Mato) – (João Donato)
8. Sugarcane Breeze (Vento do Canavial) – (João Donato)
9. How Insensitive (Insensatez) – (Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes)
10. Samba de Orfeu (from the film “Black Orpheus”) – (Luiz Bonfá)
11. Glass Beads ( No Coreto) – (João Donato e João Gilberto)
12. It didn’t End – Não se Acabou – (João Donato)

FICHA TÉCNICA

Lançado originalmente por RCA US, LPM3473, em 1965
Arranged and Conducted by Claus Ogerman
Produced by Andy Wiswell
Recorded in Webster Hall, New York City
Recording Engineer: Michey Crofford

Reedição produzida por: Arnaldo DeSouteiro (jazz Station Productions )

O que foi escrito sobre: Piano of João Donato The New sound of Brazil

The music of Brazil’s bright featuring the piano of João Donato

The stimulating effect that Brazil’s bossa nova has had on U.S. jazz — and its popularity with musicians and audiences alike — derives largely from the work of the gifted young artists represented in this album. They have been the chief architects of THE NEW SOUND OF BRAZIL — its original exponents who shaped the bossa nova from native folk music, gave it modern form, and supplied the impetus for its impact on the North American music scene.
Their names comprise a veritable “Who’s Who” of bossa nova: Gilberto, Jobim and Bonfa, to name three-and, of course, João Donato whose performing talents are featured here, playing his own compositions as well as those of his countrymen.

Solidly established as a musical director, arranger and composer, João Donato has more recently won wide acclaim for his equally impressive abilities as a pianist. His sensitive, single-note piano style is superbly suited to both the pulse and the poetry of the bossa nova idiom, and it finds an ideal setting in the imaginative arrangements of Claus Ogerman.

Claus’ intelligent writing captures the true feeling of the bossa nova and explores its many moods: sometimes reflecting the exuberance of the carnaval, sometimes plaintive and hauntingly melodic. Also, as you’’ll hear, he has achieved further variety and contrast by staging João and the other soloists against multicolored backgrounds: full orchestra, instrumental combinations and rhythm section alone.

In an album so rich in merits, it is difficult to single out individual selections for special mention. However, a few brief comments will serve as a hint to the wealth of listening pleasures that awaits you here.

There is, for examples, And Roses and Roses — a lovely ballad notable for Ogerman’s interesting use of unison voice and flute in the opening passages as well as for his contrast of bright-tempoed introduction with soaring, soulful theme, Then there’s Samba de Orfeu from the motion picture “Black Orpheus”, a compelling version of a tune that has become a bossa nova standard. From the same movie, the gentle melody of Manhã de Carnaval offers a beautiful example of Senhor Donato’s lean and lyrical piano conceptions. Little Boat is an unmistakably contemporary item that in years past might have been described as “catchy”. Notice the combination of voice and trombone is unison and João’s crisp piano lines. João’s minor Sugarcane Breeze wafts the evocative sound of the tropics and brings with it still another chance to savor his highly personal piano style. Some of this same primitive quality is evident also in João’s It Didn’t End, an exotic swinger that builds insistently from the first note to the fade-out.

These are but six of twelve musical creations in an album that celebrates the exciting New Sound of Brazil — a tribute to the men and the music who have given it birth and life. It is an album well worth hearing both for the sheer pleasure of the listening and its authentic flavor of THE NEW SOUND OF BRAZIL.
Sheldon Toomer

Texto do encarte do CD lançado pela BMG EM 2001

A RCA/ BMG orgulhosamente apresenta, depois de 36 anos inédito no Brasil, “The New Sound of Brazil”. A ironia é automática e inevitável. A pompa, merecida. Afinal, trata-se do primeiro disco de João Donato, como líder, gravado nos Estados Unidos. Sim, porque o seu primeiro LP lançado nos EUA, em 63, sob o título “Sambou...sambou”, pelo seu pacific jazz, não passava de uma reedição, com nova capa e novo título, do seu histórico “Muito à Vontade”, registrado no Brasil para a Polydor. Ainda via Pacific jazz, saiu também “Bud Shank and His Brazilian Friends”, com Donato reduzido a músico acompanhante, embora, na edição brasileira do selo Elenco, constassem na capa, em igualdade de condições, os nomes de Bud Shank, João Donato e Rosinha de Valença.

Concentremo-nos, pois, em “The New Sound of Brazil”, captado em 1965 para a RCA norte-americana. Em New york, depois da fase californiana do músico, caso único de artista brasileiro que iniciou sua carreira internacional atuando na cena do latin-jazz, tocando e gravando com Mongo Santamaría (quando saiu do conjunto foi substituído por um tal Armando “Chick”Corea), Cal Tjader, Eddie Palmieri, e até mesmo integrando, como trombonista!, a banda de Tito Puente.

Curiosamente, o disco não foi gravado em um estúdio convencional. Por sugestão de Luiz Bonfá, apaixonado pela fantástica acústica natural do local, onde havia gravado seu célebre disco com Stan Getz (“jazz Samba Encore!”), um estúdio foi montado no amplo Webster Hall, com o engenheiro Mickey Crofford encarregado da parte técnica. O maestro Claus Ogerman, também encantado com o alto pé-direito daquela proeza arquitetônica, ajudou a superar os problemas de instalação dos equipamentos, e tudo fluiu às mil maravilhas.

Por “distração” do produtor Andy Wiswell, os nomes dos músicos não constaram no LP original. E olha que era um timaço! Luiz Bonfá, já rico e famoso nos EUA, fez questão de tocar nos dois mega-hits – “Manhã de Carnaval” e “Samba de Orfeu” – de sua trilha para o filme “Black Orpheus”. Nas demais faixas, alegando preguiça, perdão, cansaço, deixou o violão nas mãos de Carlos Lyra, então trabalhando em NY no grupo de Stan Getz. Para o contrabaixo, Ogerman convocou Richard Davis, de longa experiência com Sarah Vaughan, Bem Webster, Chet Baker, Gil Evans e Wes Montgomery (depois gravaria também “Águas de Março” e “Ana Luzia” com Tom Jobim, duas faixas do disco “Matita Perê”).

Para a bateria João Donato chamou Dom Um Romão, recém-chegado a NY. Mas o produtor remanejou o lendário músico para a percussão, entregando as baquetas a Bill Goodwin, naquela época integrante do quarteto de Art Pepper, e que mais tarde se consagraria no quinto de outros às do sax-alto, Phill Woods. “O tal do Andy que o Dom Um tocava de um jeito muito brasileiro, e que isso poderia atrapalhar o rendimento comercial do disco”, desvenda Donato. “argumentaram que seria melhor ter um baterista americano tocando com sotaque, porque era assim que eles estavam acostumados a ouvir bossa nova. Achei uma explicação esquisita, mas preferi concordar para evitar um mal-estar.”

Caso Mr. Wiswell (que trabalhou com Judy Garland, Harry Belafonte, Perry Como e Liza Minneli, especializando-se em produzir trilhas de musicais da Broadway), tenha algum dia ouvindo as gravações que Dom Um veio a fazer com Claus Ogerman (em disco de Sinatra, Jobim, Astrud, etc), sem falar dos álbuns com Sérgio Mendes e Tony Bennett, deve estar até hoje se penitenciando pela tremenda mancada cometida... No final da história, Dom Um acabou tocando em duas músicas: “Samba de Orfeu” e “No Coreto”. Completando o time, pontificam, como principais solistas da seção de sopros, Jerome Richardson (flautas) e Jimmy Cleveland (trombone). Nos violinos, violas e cellos, craques recrutados por Ogerman nas fileiras da Filarmônica de New York.

Um luxo, não? Sem esquecer da importância do genial Claus para o êxito musical do projeto. Alemão radicado nos EUA desde 59, tinha recém-assinado contrato com a RCA (álbuns como “Soul Searchin” e “Watusi Trumpets” mereciam ser lançados) e havia se apaixonado pela bossa nova ao ser chamado, pelo produtor Creed Taylor, para trabalhar no primeiro LP de Tom Jobim (“The Composer of Desafinado, Plays”) em 63. Mais tarde,voltou a orquestrar para Tom (“Wave”, “Francis Albert Sinatra e Antonio Carlos Jobim”, “Matita Perê”, “Urubu”, “Terra Brasilis”), Astrud (“The Shadow of Your Smile”) e João Gilberto (“Amoroso”).

Jobim aliás, encontra-se presente no repertório de “The New Sound...” através de sutilíssimas interpretações para “Insensatez” e “Esperança perdida”, pouco regravada parceria com Billy Blanco. Donato passeia ainda com seu piano sutil e econômico por temas de Menescal e Bôscoli (“O Barquinho”, talvez seu melhor solo no disco) e Dorival Caymmi (“Das Rosas...”, que o pianista havia gravado meses antes do LP de estréia de Astrud e Gilberto), além das obras de Bonfá acima mencionadas. As outras seis faixas são de lavra própria: o hoje clássico “Amazonas” (aqui em sua primeira gravação), as singelas “Flor do Mato” (outro improviso modelar) e “Vento no Canavial” (de clima oriental), o baião “Não se Acabou”, e duas pouco conhecidas parcerias com João Gilberto, “No Coreto” e “Coisas Distantes”, à qual Lysias Ênio (irmão de Donato e seu melhor letrista) acrescentaria versos, quatorze anos depois, para uma gravação de Leny Andrade no álbum “Registro”.

Donato gravou outros dois discos nos EUA: o psicodélico “A Bad Donato” (Blue Thumbb, 1970, arranjos de Eumir Deodato, participações de Bud Shank, Dom Um, Conte Candoli e Oscar Castro Neves), um marco de jazz-funk, e o antológico “Donato/ Deodato” (Muse, 1973, com Eumir, Airto, Randy Brecker e Ray Barreto), cujo cachê ofertado a João serviu para pagar sua passagem de volta – definitiva – ao Brasil. Desde então, sua carreira teve altos e baixos, alternando períodos de ostracismo com outros de frenéticas atividade, como neste início de terceiro milênio. Para maiores detalhes sobre a carreira deste gênio incomparável e irrotulável, vale consultar o completíssimo site Discovering João Donato (www.bjbear71.com/donato/joao.html), criado pela pesquisadora americana Bárbara “B.J” Major. De preferência, saboreando as 12 faixas de “The New Sound Brazil”!

Arnaldo DeSouteiro.
Amsterdam, July 20, 2001
(Produtor musical, historiador de jazz e música brasileira, jornalista e educador membro da IAJE, international Association of Jazz Educators)

Instituto João Donato
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